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27 janeiro 2013

A Leste do Sol e a Oeste da Lua

Estudo para ilustração
Seria impossível escolher outro assunto para a primeira postagem que não esse livro, que é o terceiro e último da coleção que venho ilustrando desde 2010. O conto, coletado pelos folcloristas noruegueses Peter C. Asbjornsen e Jorgen Moe, é datado de 1845 e possui fortes semelhanças com A Bela e a Fera e o mito de Eros e Psique. Grandes ilustradores como Kay Nielsen e Edmund Dulac têm obras referentes a este conto de fadas. 

O enredo gira em torno do amor entre uma pobre camponesa e um príncipe enfeitiçado na pele de um urso, e a luta da protagonista para reencontrar seu amado após ele ser mandado para o castelo que fica a leste do Sol e a oeste da Lua. Ao contrario da maioria das aventuras, neste conto é a mulher que luta para alcançar seus objetivos; ela não é meramente um membro passivo, mas, sim, chave principal no desencadeamento da trama. Em diversos momentos da história a opinião da protagonista é decisiva, e ela prova que mesmo cometendo erros, tem capacidade de corrigí-los por si só, e corre atrás dos seus sonhos com determinação e coragem. Felizmente, também podemos observar o desenvolvimento desse  pensamento na sociedade atual: a mulher começa a aparecer com mais frequência no papel de heroína nas  histórias, o que mostra um amadurecimento geral rumo a uma maior igualdade entre homens e mulheres.


// Pesquisa*

É a etapa que mais demora, mas também é a mais importante: é nela que decidimos a abordagem, o estilo, bem como o clima do livro ilustrado.
 
Escolhi ambientar o conto na Rússia do século XVIII. A indumentária, decoração e vegetação é toda adaptada desse lugar, bem como a aparência da protagonista. Escolhi essas características porque, primeiramente, deveria ser uma região de clima temperado para polar. Quanto à época, escolhi um período próximo ao da primeira edição do conto, porque poderia manter a estrutura de campesinato x realeza que o enredo requer. Coincidências à parte, gosto de habituar minhas histórias nessas épocas, pois elas contém uma aura de encantamento por si só  devido, em partes, ao fato de não estarmos habituados com aquela realidade.

*veja o post específico sobre a pesquisa para este conto clicando aqui


// O livro

Estou ilustrando com a técnica de tinta acrílica aguada, e eu mesma fiz a adaptação da história. Ainda não está pronto, mas agora só falta mesmo pintar as ilustrações que restam. Abaixo, vcs podem ver alguns estudos e ilustrações que fiz:



Um dos estudos iniciais para o livro

Estudo final para ilustração (detalhe)


Detalhe de ilustração finalizada


Primeira ilustração & minha mesa de trabalho.




E, a quem interessar possa, o conto pode ser resumido da seguinte forma:
Numa humilde casebre vivia uma família de camponeses tão pobre que o senhor mal tinha como dar de comer para seus inúmeros filhos e esposa. Num entardecer de inicio de inverno, um urso branco bateu à porta desta família pedindo a mão da filha mais jovem, ocasionalmente a mais bela. Em troca, ele os faria tão ricos quanto agora eram pobres. Apesar de relutar inicialmente, a menina decide aceitar a proposta, e segue com o urso até o castelo em que ele habitava: escondido em uma fortaleza de pedra, o palácio era todo decorado com ouro e prata. E os dois viveram bem. Toda noite a princesa se preparava para dormir, e quando todas as luzes do quarto estavam apagadas, o urso branco se deitava ao lado dela sob a forma humana. Antes do amanhecer ele já estava de pé, e com isso a menina nunca conseguia ver seu rosto. 
Apesar de viver uma boa vida com o príncipe, o peso da saudade caía sobre a menina, então o urso disse que ela poderia visitar a família, mas deu o seguinte aviso: em hipótese alguma fique a sós com a sua mãe; não dê ouvidos ao que ela disser, ou uma enorme desgraça cairá sobre nós". A menina concordou, mas mesmo assim acabou se deixando levar pela conversa alheia. Ela foi convencida pela mãe a levar um toco se vela para poder ver o rosto do príncipe na escuridão. E foi o que ela fez. O príncipe era tão belo que ela se apaixonou no instante em que o viu. No entanto, ela deixou cair 3 pingos da cera na roupa daquele homem, e ele acordou: "O que você foi fazer?! Se tivesse esperado até o fim deste ano, meu encanto teria terminado! Agora terei que retornar ao castelo que fica a Leste do Sol e a Oeste da Lua, para me casar com a princesa que mora lá! 
A partir daí a menina percorre um longo caminho, passando pela morada de quatro senhoras que ajudam em sua jornada e também dos quatro ventos, até, por fim, alcançar seu destino no castelo a Leste do Sol e a Oeste da Lua. Uma vez lá, ela se vê na necessidade de estabelecer um trato com a princesa: em troca dos objetos de ouro que a camponesa possuía, ela teria o direito de visitar o príncipe. O que a forasteira não sabia era que a princesa dava, todas as noites, um sonífero para o rapaz, impossibilitando a conversa entre os dois amantes. Eis que, na manhã do último dia antes do casamento, os criados do castelo alertam o príncipe quanto ao drink sonífero que lhe era dado todas as noites, impedindo que ele pudesse falar com a camponesa. Ele, então, engana a princesa fingindo tomar a poção e naquela noite se encontra com sua amada. 
Juntos, os dois bolam um plano para impedir que a maldição da madrasta se tornasse realidade e eles enfim pudessem se casar. No dia seguinte o príncipe faz um anúncio a todos no castelo: aquela que conseguisse limpar as três manchas em sua camisa seria sua futura noiva. Todas as mulheres do castelo tentam, sem sucesso, até que chega a vez da camponesa. Ela, ao contrário de todas as outras, sabia o que tinha ocasionado as manchas, e por isso era a única capaz de retirá-las do tecido. Por fim e com a camisa tão limpa quanto uma nova em suas mãos, a protagonista recebe o anúncio de que seria a futura noiva de seu amado príncipe, fazendo a madrasta e a princesa explodirem de raiva.  


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