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26 março 2013

Desenho a carvão

Dediquei meu 2012 principalmente ao estudo de modelo vivo com o uso de Pastel (seco, mas também o oleoso), então iniciei o novo ano praticando com o carvão. Todos dizem, mas não custa reforçar que é sempre bom manter uma rotatividade de materiais dessa forma estamos sempre nos propondo novos desafios, e não corremos o risco de perder a prática. Por outro lado, não acredito que uma rotatividade superficial (variar sempre, trocar de material todas as sessões) renda tantos frutos: cada material tem seus próprios trejeitos, e só uma constância de estudo nos permite descobrir essas particularidades. Às vezes nos deparamos com um problema que não conseguimos resolver num único exercício, e já começamos o próximo pensando em como solucioná-lo. Se não houver essa continuidade, o aprendizado é muito mais demorado. 

Pessoalmente, tento manter uma constância de estudos com diversos materiais em parelelo, me dedicando a um principal mas sem deixar os outros totalmente de lado. Além disso, procuro ter o domínio de diversas técnicas, pois dessa forma posso, por exemplo, escolher a mais adequada para determinado tipo de trabalho no ramo da ilustração, aquela que vai dar o clima certo para a narrativa. Por essas e outras, tirei meus carvões da gaveta e acho que estou começando a me entender com esta técnica. Abaixo vocês podem conferir um timelapse do meu segundo desenho a carvão em 2013, feito em quatro sessões de 3h cada, o resultado final e meu último desenho, com a mesma duração.







Desenho de modelo vivo em carvão, em Canson A1


Desenho realizado em Março de 2013. Carvão sobre canson A1



22 março 2013

A ilustração & sua composição

Penúltima ilustração para o conto A leste do Sol e a Oeste da Lua

Em meus trabalhos costumo me utilizar de todos os elementos em cena para contar um pouco da história, e eles só ganham força se forem sustentados por uma estrutura sólida. Não é de muita serventia saber fazer detalhes muito bem, um caimento perfeito de tecido, se o artista tiver uma noção fraca de composição. Fazendo um paralelo com a fotografia, é como se dessem a melhor câmera do mundo para um amador: as fotos irão ficar plasticamente incríveis, mas a composição fraca, clichê, deixa o resultado final cair no lugar-comum, não se fixa na memória das pessoas e, enfim, é ruim quando comparada a de um profissional.


Cito o exemplo (e aproveito para mostrar o resultado final) dessa ilustração para o conto A leste do sol e a oeste da lua. Ela possui uma composição que se utiliza das formas geométricas básicas em sua estrutura, o que confere força e pregnância à imagem, como vocês podem conferir no esquema abaixo: 




Ao analisar imagens, podemos perceber que tudo que existe no mundo possui como base as três formas básicas (triângulo, quadrado e círculo). Durante toda a história da arte os artistas se basearam nesses elementos gráficos para compôr suas obras, pois são estruturas familiares ao nosso olhar. A sua harmonia, portanto, sustenta a imagem e ajuda a provocar a emoção desejada pelo texto.

Procuro também fazer uso de elementos da composição para auxiliar a narrativa, seja para ressaltar uma ação ou para direcionar o olhar do observador a um determinado ponto, consciente ou inconscientemente.




Para concluir, cito aqui uma breve referência ao livro Jardins Boboli, de Rui de Oliveira, na parte que ele introduz o aspecto da "Composição": "Da mesma forma que o ritmo, a composição é um dos fundamentos da linguagem visual, indo mais além do que atiar no equilíbrio das massas e dos pesos de uma imagem. Em realidade, ela harmoniza os espaços vazios e cheios, os tons, as luzes, os contrastes entre as formas, as direções dos desenhos. Em outras palavras, a composição não equilibra somente os aspectos físicos, abstratos e atmosféricos da ilustração; ela organiza e une todos os elementos que participam de uma narrativa visual, relacionando-os de forma equilibrada com a área útil da ilustração, bem como a página do livro. [...] Essa estrutura interna, quer seja de formas geométricas básicas, quer de letras, não é claramente percebida. Quando essa construção é aparente e demasiadamente presente na ilustração, perde de instante sua função."

Não há fórmula para fazer uma boa composição. É algo natural, intuitivo, que se adquire com a prática, estudo e a observação constante de outras obras de arte e do ambiente ao seu redor. Diversas vezes me vi finalizando uma composição da qual gostei e percebi que ela possuía uma estrutura baseada em formas clássicas (geométricas simples), ou que as luzes da cena induziam um movimento circular do olhar do observador, por exemplo. Claro, há casos em que usamos recursos para compor de forma consciente, seja para destacar algo, reforçar uma ação, etc. O essencial é tratar desse aspecto com muita atenção, pois, novamente, é que dá sustentação a uma boa ilustração, pintura, e (essa vale para todos os designers!) até para textos diagramados, cartazes e marcas.

Voltarei a falar de composição em postagens futuras, esse é um assunto muito extenso, e igualmente importante para a formação de todos que trabalham com a imagem.




Esta é a penúltima ilustração para o conto a leste do sol e a oeste da lua, cujos estudos podem ser vistos na postagem "A importância da Pesquisa" ;)